Na série Yogui.co, “O que é espiritualidade” hoje falaremos das DISCIPLINAS ESPIRITUAIS

Disciplinas espirituais


Cada prática espiritual deve servir a um propósito definido, de acordo com o que nos leva a espiritualidade, e o objetivo que estamos buscando. Eu chamo esta abordagem de espiritualidade pragmática. Não é sobre dar continuidade rigorosa a uma tradição, ou fazer algo porque “sentimos que deveríamos”, é mais sobre explorar ativamente o seu mundo interior, impulsionado por uma pergunta específica ou objetivo.

No começo você pode não saber exatamente o que essa atração é. E isso é normal e está bem. É suficiente que essa vontade seja autêntica.

Aqui está uma visão geral dos diferentes tipos de prática espiritual, através de várias tradições.

(A) Práticas de cultivo pessoal, sublimação, e exploração.

(B) Práticas de aprendizado, compreensão e absorção.

(C) Práticas da ação externa.

CULTIVO & SUBLIMAÇÃO


1 – Meditação

É um exercício de controlar a sua atenção. Os três principais tipos de meditação são: atenção focada (concentrando a sua mente em um único ponto); monitoramento aberto (estar ciente de tudo o que está na sua experiência no momento presente); consciência pura (descansando a atenção na consciência, sem distrações).

A meditação é especialmente enfatizada nas tradições espirituais que se originaram na Índia (Budismo, Vedanta, Yoga, Tantra, Jainismo, etc.).

2 – Oração

Presente em todos os caminhos teístas, a oração é um exercício de dirigir a nossa mente para o Divino, com devoção e entrega. Pode ser programada ou espontânea; falado em voz alta, em silêncio, na mente, ou sem palavras (pura comunhão).

3 – Respiração e Trabalho Energético

Estas são formas específicas de respiração e de mover a sua atenção através do corpo. Eles são frequentemente acompanhados por visualização ou repetição de sons sagrados (mantras). Isto pode ser feito com o propósito de cura, energização, purificação, relaxamento, contemplação, etc. Um exemplo é o Pranayama da Yoga ou o Qi-Gong do Taoísmo. Estes, recomendam-se também como um exercício de preparação para a meditação, que é mais sutil e interno.

4 – Técnicas somáticas

Em conjunto entre os exercícios de respiração, algumas tradições usam posturas corporais e movimentos para o desenvolvimento da saúde, liberando o fluxo de energia e outros fins. Os asanas da Yoga, mudras Budistas, e vários exercícios da tradição taoísta e as escolas tântricas.

5 – Qualidades da mente e coração

Todas as tradições falam do desenvolvimento de certas qualidades da mente e do coração. Virtudes comuns que são avaliadas são: a tranquilidade, serenidade, humildade, desprendimento, amor, bondade, compaixão, confiança, dedicação, disciplina, coragem, atenção plena, concentração, veracidade, moralidade, discernimento e energia.

Estes são desenvolvidos através de técnicas de reflexão, estudo, meditação e respiração específica e, principalmente, por estar atento a elas em nossas escolhas na vida diária.

6 – Canto

O canto é usado em alguns caminhos como um meio de oração, estudo e concentração da mente em preparação para a meditação. Em caminhos devocionais ele é usado para o desenvolvimento de sentimentos de entrega e devoção; em outras tradições, textos-chave são maiormente cantados em vez de ser lidos, como uma ajuda para a memorização e contemplação.

7 – Ascetismo

Períodos de intensa auto-disciplina, simplicidade e sem auto-indulgência. Estes incluem jejum, retiros intensivos, votos de silêncio, abstinência, longas horas de meditação, etc.

É como uma “desintoxicação da mente” ou uma “limpeza espiritual“, e é uma ótima maneira de queimar os padrões negativos para avançar rapidamente na prática. Desenvolve força de vontade, auto-controle, e um sentimento de paz e contentamento que depende de nada mais. Nas tradições do Yoga isto é chamado de tapas.

APRENDIZADO E ABSORÇÃO


1 – Estudo e Contemplação

Ouvindo palestras ou lendo textos espirituais de uma tradição, e pensar profundamente sobre o significado e as implicações desses ensinamentos. Isto pode ser tanto os textos fundamentais ou a literatura comentada. Encontramos isso em basicamente todas as tradições. No cristianismo é chamado de “lectio divina”; em Raja Yoga é chamado de “Swadhyaya”. Alguns procuram até memorizar literalmente os textos inteiros.

O objetivo do estudo é obter entendimento, discernimento e sabedoria. O aspecto da contemplação é pensar como esses ensinamentos se aplicam a sua vida, o que significa para você, e saber como estes irão mudar a maneira de como você age e vê o mundo.

Os ensinamentos são muitas vezes vistos como um modelo para compreender a realidade, e não necessariamente como descrições precisas da realidade. Eles são um quadro de como se relacionar com as coisas, e como praticar o caminho.

2 – Comunidade e relacionamento com um professor

O relacionamento com um professor, e passar o tempo em uma comunidade de praticantes, é uma valiosa forma de não só aprender a tradição, mas também de absorver a essência desta. A comunidade oferece apoio para superar as dificuldades no caminho; motivação; uma visão sobre os aspectos mais delicados da prática; respostas; e pessoas afins com quem se relacionar.

Em algumas tradições, os textos são considerados de importância secundária, enquanto uma relação pessoal com o professor ou guru é visto como essencial para o crescimento do aluno ou discípulo. Alguns deles enfatizam uma transmissão “de coração a coração” que acontece através da iniciação, e passar tempo com o professor (satsang).

3 – Crença

Em algumas tradições espirituais, ter fé em certos princípios básicos é a porta de entrada para a prática. Outros caminhos, como o Budismo e Yoga, são mais experienciais por natureza, e tendem a exigir pouca ou nenhuma crença. Em qualquer caso, é natural que, enquanto você começar a aprofundar em um caminho, e experimentar um progresso real, você vai ganhar mais confiança na sabedoria por trás dos ensinamentos – mesmo os que você não entende ainda.

AÇÃO EXTERNA


1 – Ética

O seguimento de um conjunto de princípios ou regras específicas de comportamento. No budismo, por exemplo, os cinco preceitos básicos são: Não causar danos; Não falar mentiras; Não tomar o que não é dado; Não se envolver em maus comportamentos sexuais; Não usar intoxicantes.

A maioria das tradições têm instruções semelhantes. Estas são mais profundas do que parecem na superfície, e eles existem para que nossas ações, palavras e pensamentos, suportem e reflitam a verdade que estamos procurando.

2 – Ritual

Algumas tradições são mais ritualísticas, mas basicamente todas elas envolvem algum tipo de ritual. Um ritual é, basicamente, qualquer conjunto de ações que são feitas da mesma forma, para uma finalidade específica. Normalmente, um sentimento de reverência, seriedade, ou a intensidade está associado a eles. O propósito final de rituais é desenvolver certos sentimentos ou estados de espírito – e não dar um show.

3 – Serviço

Servir à comunidade – seja outros praticantes espirituais, ou a sociedade em geral – pode ser uma expressão de seu compromisso espiritual. Alimentar os pobres, a reforma social, tradução de escrituras, apoiar as comunidades on-line, etc. O que faz com que seja “espiritual” não é tanto o tipo de trabalho realizado, mas a atitude, coração, e a intenção por trás dele.

Você não precisa fazer todos esses treinamentos. Cada caminho enfatiza certas práticas, e dá-lhes um sabor único.

Quais destes treinamentos é mais atraente pra você? Escreva, compartilhe e guarde pra continuar sua busca. 

Se você não sabe por onde começar, gostaria de sugerir ter uma prática de cultivo (meditação ou oração), juntamente com os três fundamentos universais destas praticas: estudo, desenvolvimento de qualidades e ética.

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About The Author

Carla Gonzalez

Carla G (González) Bricaire, Yoga Alliance Certified Yoga Teacher & Doula. Professora de Yoga formada pela Sampoorna International Yoga School em Dharamshala, Índia. Pratica Yoga por influências do pai desde criança, também é mestre em Arquitetura Sustentável formada no Instituto Universitário de Arquitetura de Veneza, na Itália e nova mãe de um menininho de nome Barú. Com experiência de ensino no Brasil e no México oferece, além de aulas, workshops e palestras sobre assuntos relacionados com Yoga. Fundadora do yogui.co