Quando eu descobri que estava grávida, não foi a maior alegria da minha vida como todo mundo acredita que deva ser. Depois de um ritual de desabafo do meu particular jeito, encontrei meu principal alivio no amor do meu esposo e nas folhas de papel.

Demorei um tempo em começar aceitar pro mundo o fato, mas não demorei em procurar um médico para confirmar a notícia que  descobri através de dois testes de farmácia (o primeiro achei que estava falhando).  Assim que o mundo começou saber da minha gestação, parece que comecei virar um ímã de histórias de nascimentos e sintomas que supostamente deveria sentir segundo os médicos.

Uma das primeiras coisas que me surpreendeu foi a pressão para sentir algum sintoma ruim. Médicos, conhecidos e amigas pareciam sugestionar que deveria sentir enjoos, dores de cabeça e indisponibilidade, isso sem maldade, mas como padrões de tudo que já ouviram sobre gravidez.

Estou agora com quase quatro meses de gestação e como Doula e Professora de Yoga especializada em gestantes, minha convicção interna é o suficientemente forte para acreditar no parto como uma coisa natural, como um evento belo que meu corpo é capaz de  fazer e não uma devastação total do corpo e do estado emocional, como alguns médicos e conhecidos tentavam me alertar. Não tive nenhum enjoo, os primeiros três meses até esquecia que estava grávida e o único sintoma (bom) que manifestei foi um sono delicioso. 

Yoga na gestação

Mas essa convicção foi um passo muito grande de evolução pessoal que sofri o ano passado: Criança para mim nunca foi uma coisa bonitinha, nunca falei com a voz agudinha para bebês e nunca pensei no nascimento de um filho como possibilidade na minha vida. 

O meu coração me mandou fazer esse curso de doula e especialização em gestante, obedeci essa parte intuitiva e me fez abrir os olhos e preparar (sem pensar) ao que viria no futuro planejado pelo meu coração inconscientemente e pelo universo. 

Com a notícia se espalhando, teve pessoas que o primeiro que falavam era: “Você deve estar super contente né?” Ao que eu respondia: “Quem diz que devo estar?” Uma delas respondeu isto: “Mas você deveria estar feliz, é isso que acontece quando se espera um bebê.” Irremediavelmente esses comentários me faziam voltar a pensar: “Eu devo atuar como deveria estar atuando todo mundo, porque é assim, devo só fazer o que os demais esperam que eu faça”

Mas nesses poucos meses ainda, tenho trabalhado demais internamente e sinto que tenho aprendido muito, dentro dessa bagagem de aprendizagem, posso pontuar algumas coisas dentro dessa fase que chamo de jornada:

– A sociedade que te rodeia vai te preparando para a gravidez como ELES acham que deve ser. 

Médicos, conhecidos, amigos, conhecem infinidade de histórias feias e bonitas sobre nascimentos, histórias que formaram o conceito de nascimento para cada um deles individualmente.

Formar meu próprio e verdadeiro conceito sobre gestação, nascimento, filhos e família está sendo um caminho árduo, pois sempre me questionei esse tipo de padrões que eu “devia seguir” nestes âmbitos (Por exemplo: Porque eu “devia” ver a gestação / aos bebês / às criancinhas como uma coisa linda simplesmente porque toda mulher fazia assim?).

Anos atrás, após ter ouvido pelo médico obstetra (mexicano) da minha família que a gravidez era um destroço para o corpo da mulher; ter ouvido centenas de histórias de como sua vida “deve” mudar (sempre num sentido ruim) depois de ter um filho; e ter testemunhado várias histórias de famílias totalmente desunidas que chegaram até cometer crimes entre eles… Era de se esperar que meus conceitos sobre estes tópicos fossem mais tendidos a minha verdade social do que a minha verdade essencial. 

Teria sido impossível para mim, poder sair dos (pré)conceitos que eu tinha de nascimento sem antes abrir os olhos a essa visão de verdadeira espiritualidade que Yoga e o curso de Doula me deram.

Yoga na gestaçãoFoto: Tales L. Duarte / Na foto: Carla González em Natarajasana com 10 semanas de gestação em Alto Paraíso de Goiás

 

-Gestação, nascimento, filhos e família são uma jornada espiritual individual e essencial

A gestação, desde o meu conceito hoje é a experiência física, espiritual e emocional mais intensa e demandante que pode se viver. Hoje entendo que encarar isto com consciência e com a minha própria verdade é um trabalho árduo que começou (inconscientemente) no dia em que gerei vida e não poderá parar nunca mais (afortunadamente).

Como toda experiência espiritual, não é tudo incenso e velas. O mais demandante da gestação é que me obrigou a “sair da caixinha”, sair dos conceitos preestabelecidos que eu já questionava e até sair da cidade. Com a sorte de um marido com meus mesmos interesses, começamos procurar juntos a melhor maneira de ficar mais verdadeiros com a nossa própria essência, resolvendo sair da cidade e ir “pro mato” apesar de todas implicações econômicas e sociais. Tudo isto, com o objetivo principal de nos tornar mais intuitivos, e menos intelectuais para poder aflorar em nós esse lado primitivo fundamental nesta etapa.

Foto: “Gnomo” / Na foto: Tales L. Duarte e Carla González com 11 semanas de gestação em Alto Paraíso de Goiás

-O medo pode-se transformar em empoderamento 

Li algumas histórias de como o medo pode atrapalhar na hora de um parto humanizado, mas o medo surge não na hora do nascimento unicamente, surgiu já a partir de que eu soube da notícia. Aprender a transformar esse medo em segurança é essencial para me manter forte emocional e fisicamente.

Informação confiável, leituras reflexivas, yoga, meditação, meu companheiro e uma doula (ou várias, tenho várias amigas doulas) são meus fundamentos para me sentir forte suficiente para poder manter meus novos conceitos.

Sem uma ordem em específico, sinto que é fundamental a força emocional que a figura da doula me dá sem nem ter que falar muito; a força muscular e a consciência corporal que minha prática de yoga incorpora; os minutos de -não mente- que a meditação me prepara para ter; a força intelectual para poder questionar a autoridade médica; a compreensão e empatia de meu marido  e a força psicológica que algumas leituras me fazem trabalhar.

Yoga na gestaçãoFoto: “Gnomo” / Na foto: Tales L. Duarte e Carla González em Acroyoga com 11 semanas de gestação em Alto Paraíso de Goiás

Tudo isso, é parte de uma evolução pessoal que me trouxe a poder publicar isto, desejo que surgiu de uma fome de relatos de gestação diferentes aos relatos de conto de fadas (só conseguia encontrar relatos sobre gestação maravilhosa de filme ou gestação com foco em problemas de saúde ou então relatos pulando muitas partes fundamentais da gestação  e indo muito rápido para o relato do parto). Com o tempo, através da minha gestação, irei publicando alguns pontos que possa ir reconhecendo como experiência própria, pois tenho certeza que há muitas pessoas buscando uma gestação consciente e não confortável. Quando digo uma gestação consciente quero dizer o que já publiquei neste post 

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